OS CRIATIVOS SÃO CÍCLICOS...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

FELIZES PARA SEMPRE AGORA

FELIZES PARA SEMPRE AGORA


A felicidade sempre foi cantada em verso e prosa, desde os tempos mais remotos. Quase sempre como algo terminal, um prêmio ao fim de um calvário. Já imaginou se as princesas encontrassem seu príncipe logo no início da história? Os contos de fadas seriam mais próximos da realidade (não pelo fato de a moça achar o seu príncipe, artigo raro neste mundo de sapos, mas pelo fato de termos uma história subseqüente, o depois do ‘foram felizes para sempre’), mas certamente não teriam o mesmo encanto. Nem a mesma serventia, que é (era) a de povoar o mundo de ilusão, algo estritamente necessário a nós mortais, com nosso destinozinho tacanho e finito.

Nos acostumamos pois a ver a Felicidade como algo sempre além, sempre ao fim do terrível trajeto, o troféu depois da tortuosa jornada. O tempo dos contos de fadas já vai longe, mas as pessoas parecem ainda continuar a crer em (e a sonhar com) Cinderelas Felizes, casamentos perfeitos, tesouros enterrados e amores eternos. Pode ser que existam de fato, mas pode ser que tudo seja apenas fruto desta legítima fome de ilusão dos humanos. Fome que justifica a existência de quase tudo que o homem tem criado ao longo do tempo para emprestar sentido a este nosso mundo velho sem porteira — o circo, o bar, o futebol, o cinema e mais uma lista inumerável de coisas. Segundo o grego Kazantzákis, mesmo Deus teria nascido dessa obsessão humana pelo sonho e pelo alumbramento.



Sempre me pareceu tarefa difícil para a fauna humana entender a felicidade como uma coisa mais cotidiana, e por isso mesmo banal. Tarefa difícil sim, mas redentora talvez. Não me chamo Polyana nem este texto se presta a ser um texto de auto-ajuda, longe de mim, mas caso tivéssemos a consciência da felicidade como algo ao alcance da mão e não no fim do filme, gozaríamos mais e melhor, seguramente. Falo dessa felicidadezinha passageira, fugaz, pronta para ser vivida com total intensidade. Entre os poetas que cantaram a felicidade, poucos foram tão felizes como o grande Odair José na sua clássica canção “A Noite Mais Linda do Mundo”: ‘Felicidade não existe / o que existe na vida são momentos felizes’. Sábio Odair. Dizer que se deve viver a vida com toda intensidade, não significa dizer porém que se deva enlouquecer geral, despirocar, pirar na batatinha, desbaratinar, tomar todas as vodcas do mundo, contrair todas as dívidas e sair por aí alucinando. Algo como o que fez o personagem de outra célebre canção, esta do bamba suicida Assis Valente, ‘E o Mundo não se Acabou’: anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar .../ e sem demora fui tratando de aproveitar ... / beijei na boca de quem não devia / peguei na mão de quem não conhecia / dancei um samba em traje de maiô / e o tal do mundo não se acabou’ (de Valente também é o deslumbrante verso ‘felicidade é brinquedo que não tem’, em “Boas Festas”, a mais bela e triste canção de Natal que eu conheço).

Mas voltando à vaca Fria da felicidade comezinha, tive um amigo, do tipo sábio de padaria, que adorava repetir uma frase genial: ‘Felicidade é um café na cama’.
Mas pode ser também uma boa rodada de chopes com os amigos no bar gastando conversa (isso pro meu gosto, claro. Para os finos provavelmente uma noite de degustação de vinhos da nova safra sul-africana; para os brutos - ou pobres - uma roda de pinga barata na bodega da esquina). A lista pode ser aumentada, claro, conforme o gosto do freguês. O café vespertino na padaria da esquina, uma canção ouvida no rádio de surpresa, o livro lido na rede, o filme na tarde chuvosa, uma noite de amor intenso, um trabalho realizado a contento, uma tarde de domingo no estádio febril, uma gentileza inusitada, a cerveja na praia antes do almoço, a comida que não está nos guias gastronômicos mas que aconchega a alma, coisas que enchem o peito, que dão aquela sensação boa e plena, de que não falta nada, nem mesmo um cigarro, pra completar a felicidade, e que a vida daí por diante será melhor, bem melhor.

Estou falando de felicidade em vida, na terra, em corpo material, carne e osso, aqui e agora, não na vida eterna. Apesar de considerá-la uma fábula bíblica muito fascinante, nunca tive fé suficiente para crer que do outro lado teremos o que não tivemos em vida, alma jubilada ao som dos clarins de anjos de cabelos cacheados e paz plena.Por isso, como um Reich caboclo e rude, sugiro que gozemos dos pequenos encantamentos (não só os sexuais, óbvio!) de nossa vidinha besta como a máxima e suprema felicidade. Ladies and gentleman, vagabundos e maloqueiras, famosos e anônimos, aristocratas e proletários, acorrei, e na dúvida, gozai a felicidade possível, os tais ‘momentos felizes’. Pode ser que lá adiante o alardeado ‘happy end’ não seja tão feliz assim.






por ZECA BALEIRO




Aos adeptos[como eu] e simpatizantes da linha UMA FELICIDADE TAO SIMPLES a cada momento, as palavras do Zeca caem como uma luva, uma meia, uma pantura, no aconchego para o bem viver...

2 comentários:

  1. Te achei. Vou ficar de olho neste blog.
    "só a antropofagia nos une.Filosoficamente. Economicamente..."
    Lana

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  2. Lela querida, um espetáculo seu Blog. Por onde anda vc minha amiga querida?
    Mande notícias tá? beijos Lane Lacerda

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