
They Don't Care About You, Michael Jackson.
Enquanto ocorre a milhas e milhas de distância de mim o sepultamento do andrógino Michael, transformado num apoteótico show em busca de flashs para incendiar a fogueira de tantas vaidades, penso naquele Ser completamente fragilizado e multifacetado e escolho como última homenagem assistir exaustivas vezes ao vídeo gravado lindamente no Pelourinho They Don't Care About Us e me recordo do dia dessa gravação com o Olodum, num cenário tão distante da realidade do astro... Sim, naquele gueto de antigas torturas à escravos vive um povo que orgulha-se de suas origens e reverencia sua história de resistência, sua negritude nagô, sua musicalidade alegre, suas feições largas e a tez tão próxima ao ébano do meu clarinete... Estive no Pelourinho nesse/naquele dia, no Restaurante/escola do SENAC e vivi ainda a atmosfera gostosa e o orgulho dos tantos figurantes desse espetáculo magnífico, mas que tenho certeza que para o Michael muito mais espetacular e gritante foi o choque de realidade e de felicidade que existia entre aquelas pessoas com simplicidade no coração e euforia colorida na alma e o ídolo... Imaginei nascer uma idolatria de mão dupla... Ali não existia pompa e circunstância a que ele estava acostumado e sim um ambiente singelo e verdadeiro, mas a galhardia vinha do sorriso que espelhava, espalhava uma felicidade intrínseca e estrutural das pessoas daquela comunidade e não apenas um lampejo eventual e fortuito, advindo daquele movimento epsódico...
Quem não é baiano e se apercebe desse clima frequentemente festivo, que corpora um certo turísmo folclórico, deseja ser no fundo um “afrodescendentão” em dia com as continhas cotidianas, a “geladinha nossa de todo dia”, sem crises existenciais ou raciais, sem recalques e repressões, usando todo o seu sex-appeal com nativas e gringas, no melhor do seu dialeto baianês. E embora alguém possa até ter sonhado, não trocaria sua vidinha de malelolência soteropolitana pela vida enfadonha, apesar de tamanho conforto material e dinheiro que um dia ele teve, e que hoje pai, mãe e afins descabelam suas afrocabeleiras para apossarem do que restou da materialidade pecuniária daquele menino triste. Sim Michael, eles não cuidaram de você.
Fecho meus olhos saudosos ao som da música They Don't Care About Us e consigo vê-lo utilizar com escárnio as palavras de um pai Brasileiro de bom Tom, um Antônio de coração generoso, para dizer a sua gênese: EU SOU A CONSEQUÊNCIA INEVITÁVEL DE VOCÊ...
Seja na eternidade a criança feliz que sonhou ser na sua Terra do Nunca, eterno infante...
Sono qui ricordarmi a voi.
Ich bin hier, sich zu Ihnen zu erinnern.
I am here to remember to you.
Je suis ici tu rappeler.
Estou aqui pra te lembrar... <Última estrofe da alulida música, na universalidade linguística da sua genial expressão>
Quem não é baiano e se apercebe desse clima frequentemente festivo, que corpora um certo turísmo folclórico, deseja ser no fundo um “afrodescendentão” em dia com as continhas cotidianas, a “geladinha nossa de todo dia”, sem crises existenciais ou raciais, sem recalques e repressões, usando todo o seu sex-appeal com nativas e gringas, no melhor do seu dialeto baianês. E embora alguém possa até ter sonhado, não trocaria sua vidinha de malelolência soteropolitana pela vida enfadonha, apesar de tamanho conforto material e dinheiro que um dia ele teve, e que hoje pai, mãe e afins descabelam suas afrocabeleiras para apossarem do que restou da materialidade pecuniária daquele menino triste. Sim Michael, eles não cuidaram de você.
Fecho meus olhos saudosos ao som da música They Don't Care About Us e consigo vê-lo utilizar com escárnio as palavras de um pai Brasileiro de bom Tom, um Antônio de coração generoso, para dizer a sua gênese: EU SOU A CONSEQUÊNCIA INEVITÁVEL DE VOCÊ...
Seja na eternidade a criança feliz que sonhou ser na sua Terra do Nunca, eterno infante...
Sono qui ricordarmi a voi.
Ich bin hier, sich zu Ihnen zu erinnern.
I am here to remember to you.
Je suis ici tu rappeler.
Estou aqui pra te lembrar... <Última estrofe da alulida música, na universalidade linguística da sua genial expressão>
Por Valéria Valério
Clic para assistir ao vídeo
http://www.youtube.com/watch?v=gCqQ2JcQWGs
toda a obra sensacional de Michael jackson foi premiada mais uma vez com esse texto tão sensível e próximo da mesma genialidade do
ResponderExcluirastro.
Renato, querido amigo,
ResponderExcluirEssas poucas palavras entremeadas pela emoção da perda do ídolo e seus desdobramentos é tão somente uma lágrima quente, úmida, escorrendo pelos tortuosos caminhos da minha saudade...
Obrigada pelo carinho que retribuo no aconchego de um abraço.
de facto, há homens que não partem por mais que a vida nos queira con-vencer que temos de partir um dia, há homens assim: que não se deixam vencer e vivem eternamente... nas obras que deixaram...
ResponderExcluirsem palavras!
um bela postagem!!
Nossa fiquei Muito emocionado amei os pelos do meu braço fizeram festa com suas crônicas são belíssimas vc está amiga de parabéns...
ResponderExcluir