OS CRIATIVOS SÃO CÍCLICOS...

sábado, 25 de setembro de 2010



Porque tinha suas ausências.

O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas.

Uma tristeza mais antiga que o seu espírito.

Os olhos paravam vazios; diria mesmo um pouco ásperos.

A pessoa que estivesse ao seu lado sofria e nada podia fazer. Só esperar.

Pois ela estava entregue a alguma coisa misteriosa, infante.

Ninguém ousaria tocá-la nesse momento.

Esperava-se um pouco grave, de coração apertado, velando-a.

Nada se poderia fazer por ela senão desejar que o perigo parasse.

Até que num movimento sem pressa, quase um suspiro,

ela acordava como um cabrito recém-nascido

se ergue sobre as pernas.

Voltara de seu repouso na tristeza.



Clarice Lispector
 
 
Eu, enlutada de mim mesma.

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