Hoje é 23 de setembro e inicia a Primavera. Nesse mesmo dia no ano de 1885 nascia Antônia Torres Valério, minha vovó, para ser nessa vida tudo o que eu tento ser e na maioria das vezes não consigo. Para mim, inatingível, um mulher extraordinária, um amor que resiste ao tempo e que, quando em vez, me arrasta para uma melancolia de endoidecer, como agora, somado aos meus revezes de saúde e existenciais. Agradeço a Deus ter sido sua contemporânea. Agradeço pelo amor extremado, hoje dorido pela saudade e pelas tantas lembranças. Agradeço o bom tempo do conviver, eu na minha meninice e ela já a vovozinha de cabelos de algodão desde que nasci, éramos opostos complementares... Amei com loucura essa mulher. A ausência sufoca o peito mal-tratado e aperta a garganta com tamanho pesar. Que primavera de vazios, de horizonte chumbento, de lágrimas quentes e intermináveis, de saudade infinda... Saudade também de outra Antônia, a Santana, cujo coração, eu sei, também batia por mim e está contida nesse tormento chamado saudade, avivada ainda mais na memória do seu amado filho, que a ela escreve hoje essas palavras:
23 de setembro de 2010
Esta é minha primeira Primavera
sem o perfume da minha mãe...
Ainda bem que os pássaros não sabem disso,
nem as borboletas, nem as abelhas,
nem os colibris...
É o que parece...
Pois o dia está bom para recomeçar,
pra revonar aquela “estação” em que entrei,
pra tentar quebrar esse jarro que me tornei...
Mas minha flor está dentro dele,
ramificando, à cada dia,
tomando conta de mim,
desse corpo que veio do barro –
matéria-prima desse jarro...
Meu amor está dentro dele, avançando,
feito uma metástase de flores
na imensidão do jardim eterno.
Edmilson Santana
É ... o dia está bom para recomeçar, e agradeço aos queridos Clifford, Valery e Paula que tentam descortinar essa paisagem "cinza feito um céu de estanho" desse meu desesperançoso e entristecido olhar primaveril de hoje... 115 anos do nascimento de vovó, que há muito nos deixou, e a primera Primavera sem Antônia.
Palavras e sensibilidade do querido Marcelo Cezimbra
ResponderExcluirGostei do ensaio e da poesia. Nos faz lembrar que o que fica é o que damos. O que ficou de sua vovó foi o que vocês deram e receberam uma da outra. Vivamos cada dia como se nós ou o outro não esteja mais aqui amanhã. Beijão Marcelo